Com uma trajetória que tem irreverência, brasilidade e compromisso ambiental, a Amapô Jeans transforma o mercado da moda ao aliar inovação sustentável e identidade única.
A marca Amapô nasceu de dois universos distintos. Uma das fundadoras, Carolina Gold, era figurinista e trabalhava com tecidos e roupas, enquanto sua sócia, Pitty Taliani, cresceu em uma família de confecção renomada nos anos 80. Ao se conhecerem, criaram um projeto para o Amni Hotspot, evento para novos estilistas, e adotaram o nome “Amapô”, inspirado em uma gíria que significa mulher. Apesar de ter sido escolhido inicialmente de forma despretensiosa, o nome se tornou definitivo.
Embora a marca tenha começado com foco em estamparia, o jeans se tornou central devido à paixão de Pitty por esse material. Criada em meio a uma indústria de jeanswear, a empresária trouxe essa influência para a marca. Com o tempo, a Amapô desenvolveu uma identidade única no jeans brasileiro, em contraste com marcas estrangeiras que dominavam o mercado.
Processo criativo
Contudo, o processo criativo é guiado por emoções e obsessões pessoais das fundadoras no momento. Seja uma viagem ao Havaí ou uma paixão por K-pop e doramas, as inspirações são transformadas em coleções impactantes. Essa abordagem emocional também contagia a equipe e o público, resultando em desfiles que sempre emocionam.
Falando em desfiles, a criação das coleções varia: algumas são elaboradas com meses de antecedência, enquanto outras são preparadas em apenas 18 dias. A marca acredita que trabalhar com prazos curtos pode ser benéfico, evitando excesso de revisões e promovendo decisões mais certas.
Do algodão ao desfile: o caminho sustentável da Amapô
Este ano, a marca retornou a desfilar no São Paulo Fashion Week, que foi descrito por Carolina como uma experiência acolhedora, como “chegar em casa”. Para as sócias, embora emocionante, a maior satisfação vem do processo criativo e da jornada até o evento.
Jornada essa que marca em um universo onde o denim não é apenas tecido, mas uma identidade. Entre tecidos reciclados e processos que respeitam o meio ambiente, a Amapô está construindo uma nova narrativa para o jeans brasileiro.
“O desfile abriu com um tecido chamado hidrodenim, que é simplesmente fascinante”, relata Carolina, com um brilho no olhar que transparece paixão. Produzido pela Paraguaçu, o tecido ecológico consome menos recursos hídricos e utiliza um tingimento livre de anilina, substância conhecida por sua toxicidade e impacto ambiental. “É incrível pensar que todo o catálogo da empresa já segue esse padrão, e isso é algo que precisamos valorizar”, descreve a empresária.
Além disso, a lavanderia utilizada pela Amapô inova com técnicas que dispensam produtos químicos, priorizando métodos como laser e lavagens à base de água. No entanto, há desafios: “A gente teve que abrir mão de algumas estéticas que amávamos, como as lavagens craqueladas dos anos 80, porque elas careciam de processos químicos. Mas estamos aprendendo a descobrir novas belezas nesses tecidos reciclados”, lembrou Carolina.
A estética do futuro e o desafio da educação do consumidor
Uma jornada para transformar o gosto do público também é um desafio constante. “Tem tecidos, como os de Ilhéus, que têm uma estética incrível, mas que ainda não são compreendidos. É um tecido claro, com uma aparência que remete ao pano de prato. As pessoas olham e não veem o potencial estético, porque ainda estão presas ao visual tradicional do jeans lavado com bigodes e desfiados”, explica Carolina que sempre busca uma solução para a marca.
Com isso, para o Amapô, a solução é simples: persistência. “Estamos aqui para educar o público, para dizer que, em breve, só há essas opções sustentáveis. E isso não é uma limitação, é uma nova porta que estamos abrindo”.
Reconstrução como arte
No coração desse movimento, também é o projeto de upcycling da marca. Peças de coleções antigas, fora de moda ou danificadas, ganham nova vida em criações únicas e contribuições de significado. “É como contar uma nova história com pedaços do passado”, reflete uma das sócias.
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A maturidade de um desfile e o renascimento do Amapô
O São Paulo Fashion Week trouxe um novo marco para o Amapô. Após um período longo das passarelas, o retorno foi celebrado não apenas como uma exibição de moda, mas como uma reafirmação de identidade. “O último desfile foi pura poesia, mas desta vez quisemos algo diferente, uma proposta comercial que mostrasse a força do nosso produto”.
A resposta foi uma mistura de paixão e reconhecimento. “Os veículos de moda captaram nossa essência e fortaleceram nosso propósito: sermos a melhor marca de jeans do Brasil, feito aqui, com identidade brasileira. “O tom do desfile refletiu amadurecimento. Foi a primeira vez que senti que fizemos algo realmente adulto. Sempre tivemos humor e leveza, mas desta vez trouxemos uma maturidade diferente, sem perder nossa essência”, contou Carolina, com a emoção de uma grande realização nas mãos.
O desafio do mercado interno e dos ecos internacionais
No entanto, a indústria do jeans no Brasil enfrenta desafios. “O mercado está desordenado, regido por regiões como o Brás e o Bom Retiro, que amamos, mas que priorizam explicitamente e valores incompatíveis com o nosso trabalho. É um mercado que precisa de mais identidade”.
Internacionalmente, a Amapô já marca presença com vendas pela plataforma Farfetch, mas os altos custos do dólar dificultam as exportações em grande escala. “Já foram momentos incríveis exportando para o Japão e Estados Unidos, mas esse cenário mudou. Hoje, focamos no consumidor final internacional”, explica Carolina.
Do desfile à loja: peças à venda pela primeira vez
Uma mudança significativa foi disponibilizar as peças do desfile para venda. “Sempre guardamos as peças como acervo, mas desta vez decidimos colocá-las na loja. Claro, por valores que têm significado para nós, mas disponíveis. Antes que eu me apegue demais”, brinca a empresária.
Conexão com o cliente
A loja de rua da Amapô se tornou um laboratório de interações diretas com o público. “Aqui percebemos o que eles realmente querem. Por exemplo, pediram calças largas, algo que não era clássico nosso, mas decidimos experimentar e adaptar ao nosso estilo”.
Ao final, a Amapô não apenas cria moda; ela transforma conceitos, desafia padrões e convida o público a caminhar junto por um novo caminho, onde o denim é sustentável e o futuro é consciente.
Imagens: @amapojeans